21 julho 2010

A minha achega


Há quem se interrogue sobre a ideologia (ou falta dela) do Movimento pró Partido do Norte (MPN). É natural que isso aconteça pois estamos habituados, desde a Revolução Francesa, a arrumar as forças políticas à esquerda ou à direita e a sentar os deputados segundo uma certa lógica no hemiciclo parlamentar.

O MPN reúne apoiantes de diferentes sectores e sensibilidades que partilham um sentimento comum : o de que o actual sistema político centralista abandonou o país e em especial o Norte. O Manifesto aprovado na reunião fundadora de 29 de Maio é essa declaração colectiva de que é preciso urgentemente regionalizar o país.

O Norte foi, nos últimos anos, a Região que mais regrediu, onde o desemprego mais aumentou, onde os salários são mais baixos e que mais espezinhada e sugada tem sido por um poder político autista, arrogante e distante.

Combater o centralismo e dar músculo político à Região Norte é já em si, a meu ver, uma válida plataforma para a acção, tanto mais que se trata também de resistir à discriminação e às injustiças que a Região vem sofrendo, de defender o princípio da subsidiariedade segundo o qual as decisões políticas devem ser tomadas ao nível adequado mais próximo dos cidadãos, de pugnar pela democracia, pela transparência e pela cidadania.
Tudo isto é ideologia : definir princípios e valores, unir vontades e apontar objectivos.

Quando no princípio do século XIX os nortenhos se levantaram contra o exército invasor francês, não se perguntaram se o parceiro do lado era católico ou ateu. Quando os membros do Sinédrio do Porto exigiram o regresso do rei refugiado no Brasil, não se puseram questões sobre se uns eram mais ou menos monárquicos. Quando há cem anos muitos entenderam que o regime estava exausto, uniram-se num partido republicano sem curarem de esclarecer se uns eram mais conservadores ou mais progressistas. A chamada Oposição Democrática ao regime do Estado Novo só progrediu quando foi capaz de encontrar bases de entendimento comuns.

Nós temos uma tarefa pela frente : atravessar este lamaçal centralista com que o regime político vigente vem amarfanhando o país. A nossa barca tem remos à direita e à esquerda mas tem um rumo definido e acordado entre todos : a outra margem, ou seja, uma Região Norte vigorosa, empreendedora, confiante nos seus talentos e nas suas capacidades. Esse pragmatismo é um método e, se calhar, uma novidade.
Concentramo-nos no que nos une, conscientes todavia que seria fácil procurar razões para nos dividirmos e por isso fracassar.

Os eleitos pelo MPN devem ter plena liberdade de opinião quando na Assembleia da República forem chamados a tomar posição sobre matérias que não bulem com os objectivos que nos uniram. Não se trata de se abster ou de se desinteressar. Ao votar sobre questões de sociedade (por exemplo, a eutanásia) ou sobre questões da exclusiva competência da Administração Central (por exemplo, a defesa) ou outras questões de âmbito nacional, o deputado do Partido do Norte assumirá as suas responsabilidades, até porque cada Região é também co-intérprete do interesse nacional. Ou será que esse interesse nacional brota por mera magia de um oxigénio especial que paira no Terreiro do Paço ?

A maneira dominante de abordar as ideologias levou a que se se seja tentado a encaixar a realidade em parâmetros teóricos pré-concebidos que, afinal, se revelam espartilhos, quando não meros preconceitos. Ora, a realidade é mais vasta, mais complexa e mais fugidia que essas receitas onde a queriam enclausurar. O MPN parte liberto desses apriorismos e quer pegar na realidade ao invés, com a ambição atrevida de acreditar que não há problema ou dificuldade que não tenha solução. Há cardápios ideológicos que mais não fazem que fechar portas e separar águas. Hoje, a emergência é partir do concreto e fazer o balanço depois.

Reconheçamos que (ainda) não temos resposta para tudo pois estamos a crescer como força política e precisamos de amadurecer ideias (não ideologias) e pormenores. É possível que tropecemos aqui ou ali, mas há para nós uma evidência : o situacionismo é mortal e por isso recusaremos essa agonia a que o regime centralista nos condena.

E entendamo-nos no seguinte : os actuais partidos com assento parlamentar, ciosos das suas marcas esquerda/direita, que fizeram eles das suas auto-proclamadas ideologias ?
Desde o « socialismo na gaveta » soarista até ao centrismo submarino do Dr. Portas, passando pelo “dar a mão ao país” com que o Dr. Passos se diz e desdiz, consegue alguém destrinçar entre eles diferenças fundamentais ? E não são os mesmos que vêm agora falar em governos de salvação nacional ou em coligações salvíticas ?
Mais : se prescutarmos cada um de per si, não é verdade, por exemplo, que no CDS há deputados favoráveis ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, que no PSD uns estão contra as golden shares e outros a favor, que no PS a cavaleira branca Dra. Ana Gomes convive pacatamente com os boys da ‘Face Oculta’ ? Há um Governo da nação ou um Comité de negócios ?

O palavreado anti-neo-liberal da pretensa esquerda é um farrapo de contradições, assim como o discurso reformista do alegado centro-direita é um simples biombo atrás do qual se veio consolidando este situacionismo protegido por um sistema eleitoral perverso em que medra um amiguismo condescendente.

Se esses partidos se julgam ideológicos e por isso moralmente superiores, eu vou ali e já venho. E quando vier é para dizer que, em termos de ideologia e de consistência, podemos estar ainda a dar os primeiros passos mas já somos melhores e mais fortes que todos eles juntos. Porque temos uma doutrina : defender a Região e levantar Portugal.

Francisco de Sousa Fialho

4 comentários:

  1. Apoiado!

    Não posso estar mais de acordo. Depois, quando chegar a hora de acertar agulhas e coordenar ideias, então será indispensável que se instale no seio do novo Partido um forte espírito de cooperação colectivo onde o bom senso e a noção do Dever sejam os "mestres de orquestra".

    ResponderEliminar
  2. Não me preocupam a eventual ainda pouco consistência ou ideologia mal desenhada do futuro partido. Mas vejo pelas entrevistas aqui neste site apresentados como DOUTOR Pedro Baptista e DOUTOR Marco Monteiro, que estamos bem servidos de títulos. Por mim, passo. Assim colocada a coisa, não acredito em mais vaidosismos e pavões da política, já que tá visto que as melhores intenções vão acoitar DOUTORES (que não estes) mal servidos em outros partidos

    ResponderEliminar
  3. Completamente de acordo com esta opinião! Quando fôr necessário colocar os pontos nos iii, se é que é necessário, certamente o saberão fazer!

    O essencial é a fonte do Partido. E essa questão está devidamente acautelada!

    ResponderEliminar
  4. Efectivamente verifico que o facto de o futuro Partido não ter colado um " rótulo ideológico",faz confusão a muita gente. Eu penso que é importante sublinhar -e faço isso nas minhas conversas sobre o assunto - que o Partido nasce essencialmente como voz e orgão de defesa do Norte, mas não só, pois pretende ser um player no campo eleitoral nacional. A finalidade, do meu ponto de vista,é possuir a capacidade de implementar, atravez do exemplo, uma nova prática política que ponha termo ao actual sistema, de acordo com o qual os partidos políticos têm um funcionamento que em muitos pontos se assemelha ao das famílias mafiosas da Cosa Nostra.

    ResponderEliminar