A dominação hoje faz-se mais pela cultura, entendida esta no sentido antropológico, veiculada por quem estrategicamente controla os modernos vectores difusores das ideias e paradigmas comportamentais, sejam eles políticos, de consumo, ou de simples cidadania, do que propriamente pela força ou pela supremacia económica. Aliás, esta, a supremacia económica, é o objectivo final, embora muitas vezes escondido, das várias formas de dominação. Afinal trata-se da mais velha guerra da humanidade: não, não é a guerra dos sexos, é a guerra pelos recursos.
O problema de grande parte das elites portuenses, minhotas e trasmontanas, em particular das políticas, mas também de muitos cidadãos comuns, é o facto de estarem cultural e mentalmente dominados pelo sistema centralista. Afirmações recorrentes de políticos e outros comentadores de que o caminho não pode ser nunca o confronto com Lisboa demonstram como a dominação cultural que a Lisboa capital exerce sobre eles é tão evidente e eficaz.
As oligarquias que em Lisboa dominam as altas estruturas do Estado, das empresas públicas, dos media e dos negócios privados não dorme na forma e executa bem o seu trabalho. Um exemplo do que acabo de afirmar é a ideia muitas vezes repetida, e diga-se com claro sucesso, pelos centros difusores da "cultura" centralista, de que o que o Porto quer substituir-se a Lisboa e replicar no Norte aquilo que as oligarquias centralistas de Lisboa fizeram ao país. Para começar esta ideia carece de demonstração empírica: primeiro, o Porto nunca exerceu qualquer espécie de poder administrativo sobre o país; depois, o Porto município é hoje uma cidade com pouco mais de 200 mil habitantes, logo sem força para se impor a quem quer que seja. Quando muito podemos falar no Grande Porto como área metropolitana onde pontificam municípios tanto ou mais poderosos que o velho burgo como Gaia, Maia e Matosinhos. Mas mesmo até aqui esta área metropolitana é distinta daquela que se formou em volta de Lisboa: a Área Metropolitana do Porto é policêntrica e descentralizada com vários núcleos dinâmicos e de grande autonomia socioeconómica; aqui a interdepedência é a palavra de ordem e não a dependência em relação a uma cidade eucalipto que tudo absorve e suga. Esta forma de estar no mundo replica-se à região envolvente: num raio de 60 km centrado no Porto encontramos cidades tão dinâmicas e autónomas como Braga, Guimarães, Famalicão e Aveiro. Nesta área existem 3 das melhores universidades do país que funcionam de modo autónomo e em sadia concorrência: Porto, Minho e Aveiro. Esta realidade é completamente oposta à que encontramos na Área Metropolitana de Lisboa: no mesmo raio de 60 km traçado a partir do centro de Lisboa não encontramos qualquer cidade com a dinâmica e importância das referidas e encontramos 5 universidades públicas (Lisboa, Nova, Técnica, ISCTE e Aberta) todas elas concentradas no município lisboeta (!!). O argumento do centralismo portuense cai pela base por falta de provas empiricamente validadas.
É claro que o confronto e a nossa luta não é nem pode ser com a Lisboa cidade do povo comum, também ele vítima dos interesses destas oligarquias. Não invejo de modo nenhum a vida de todos aqueles largos milhares de concidadãos que vivem nas margens do IC19, da Linha de Sintra, ou na chamada "outra banda". Não lhes invejo a vida difícil, nem as imensas horas de vida perdidas em filas de automóveis ou em comboios a abarrotar e com conhecida insegurança, principalmente nas horas nocturnas. É preferível, sem qualquer hesitação, viver em Ermesinde. Mas quanto às oligarquias centralistas, não vejo outra solução senão confrontá-las. Não acredito que elas de livre vontade cedam poder e prerrogativas. Qualquer manual de ciência política nos afiançará tal inevitabilidade. Obviamente, essa luta não nos dispensa de fazermos o nosso próprio trabalho cá em casa.
José Alves gostei imenso da sua reflexão, realmente a prova que produziu do falso centralismo do Porto é de registar e salientar, pois considero um argumento válido e digno de ser usado noutras intervenções!
ResponderEliminarPor fim também considero importante o último parágrafo, dado que sou conhecedor de casos práticos como os que descreve, e realmente este Movimento nada tem contra o comum do lisboeta, apenas contra a "comandita" que por lá paira à volta do poder!!!
um abraço