10 junho 2010

O momento certo

A cada dia a sua pena.
Ou a cada dia a sua pedra ?
A mais recente vem embrulhada com a capa de defesa da própria Regionalização.
O argumento rezaria assim : é prematuro criar um partido regional ; primeiro dever-se-ia obter a Regionalização e só depois construir o partido ; enfim, um partido prematuro só dificultaria e atrasaria a Regionalização.

Convenhamos que a criatividade do raciocínio (cuja fundamentação me escapa, mas essa omissão não parece incomodar os seus autores) não está longe daquela polémica antiga sobre a precedência do ovo ou da galinha. Ou será uma reencarnação do paradoxo de Zenão para quem seria impossível chegar ao destino visto que faltaria sempre percorrer metade da distância que dele nos separava ? Adiante.

Admitamos a sinceridade da dúvida ou da crítica. Aliás, nem pode ser de outra maneira, pois imaginar que o seu autor nos imputaria o desígnio secreto de sabotar a Regionalização, seria aceitar o insulto e especular subjectividades.

A vida social, a dinâmica das relações humanas e sobretudo a luta política como expressão de defesa de interesses e de direitos não se compadece com abordagens biológicas e naturalistas, para as quais a flor tem de preceder o fruto. Transpôr para a dinâmica social « essa ordem da natureza » é um daqueles erros clássicos dos que barafustam contra os mercados enlouquecidos ou dos que acusam o Povo de ser estúpido por não se adaptar nem respeitar a bela engenharia social que os iluminados arquitectaram no remanso de confortáveis gabinetes.

É certo que um general deve velar pelo melhor momento e pelas circunstâncias mais favoráveis, mas se o adversário o surpreende numa ravina ou se as suas próprias tropas avançam num élan combativo, é seu dever pôr-se à cabeça, a não ser que seja um poltrão e opte por ficar na retaguarda a esbracejar, a protestar contra a « batota » do inimigo ou contra a precipitação dos seus próprios tenentes.

A política não tem horas marcadas. Acontece.
Trazer para o combate político uma postura determinista que nos obrigasse a esperar pelas alegadas ‘condições ideiais’, pelas ‘necessidades objectivas’, pelas intendências adequadas, é enganar-se de comércio : mais vale ir vender tremoços na praça e levar contabilista.

Nada está escrito de avanço, nem a derrota nem a vitória.
Não há biopolítica. E há sempre espaço para criar um acto, pois não há momentos « certos ». Esperar por eles é a melhor maneira de nada acontecer. Em boa verdade, e não tenhamos medo de o dizer, é preciso ser « prematuro » pois é nessa antecipação que nasce o “momento certo”, e não o inverso.

Por todas estas razões, acusar o Movimento Pró Partido do Norte de ser um nado-prematuro parece-me, além de pura míopia política, absolutamente irrelevante como discussão neste momento. Ele está aí. Resmungar contra isso é aceitável num encenador de teatro, habituado a gerir os tempos dos seus figurantes, e faz-me lembrar aquele oficial do Porto de Leixões que ao receber o aviso de que um navio de grande porte estava junto da praia de Fuzelhas, gritava por telefone ao comandante « Você não pode estar aí ! ».

Dito isto, admito que sejamos inconvenientes. Claro que o somos, até porque ainda recentemente ouvimos o Assis prever que Rui Rio seria um bom Presidente da região. Estava-lhes tudo a correr tão bem, as pessoas entretidas e distraídas, era só esperar pelos fins de mandato e fazer bailar cadeiras, enquanto nos ofereceriam uma pseudo-região, qual prenda que era suposto agradecermos.
Pois ainda bem que somos inconvenientes. É próprio do povo ser « inconveniente », sobretudo quando não é convidado.

Pelo Norte e pelo país !

Francisco de Sousa Fialho

7 comentários:

  1. Antes de tudo, quero comunicar-vos que já efectuei o registo como membro deste movimento. E refiro-vos, que a minha "filiação" traduzir-se-á numa dedicação total aos intentos do movimento Pró Partido do Norte, desde que o mesmo reflicta a preocupação com o solucionamento daquilo que entendo serem as reais necessidades e problemas da população que habita fora dos limítrofes da região colonialista Al-Ushbuna. Não desejo nem tampouco espero que este movimento se confirme como tentame de busca de poleiro, notoriedade, ou tacho para os elementos que o constituem (sobretudo para os mais mediáticos) ou que seja apenas mais uma politicalha de contornos fátuos e ardilosos. Expostos os respectivos apartes, aproveito a momenta para vos expressar que temos ( permitam-me que já escreva no plural da minha pessoa) um longo, sinuoso, e alcantilado caminho pela frente até atingirmos o cume da nossa representatividade. E, já que o monstro anda outra vez na moda, não o do défice público porque esse parece evo, há que empreender esforço e ter a afoiteza dos grandes navegadores de maneira a dobrarmos as tormentas e as blasfémias com que os adamastores do burgo nos brindarão. Mais do que criticar os efeitos difusores invisíveis, os desvios vergonhosos do gimbo dos QREN, e todos os outros fundos comunitários pré-destinados a Olissipona pelas vozes putrefactas de suas altezas governamentais, é necessário explicar aos cidadãos de forma simples e sem jargões de político “fast-culture” as ideias do porvir partido pró norte. Depois de devidamente aclarados os fundamentos desta iniciativa, e porque grande parte da nossa população revela grau elevado de iliteracia e desinteresse total em áreas como a política ou a economia, há que evidenciar os números e as estatísticas vergonhosas das insofismáveis dissimetrias regionais da nossa nação, que explicam sem dubiedades as realidades do actual Portugalinho. Exponham-se indicadores sócio-económicos a nível de regiões como por exemplo o rendimento per capita, o PIB, a taxa de desemprego, o Nº de empresas / sector, o percentual de exportações,o nº de licenciados, o nº de escolas/população, etc. Embora se deva assinalar que mesmo os nortenhos mais desinformados sabem que em Portugal exceptuando as regiões autonómicas é Lisboa e o resto, devido às sucessivas perfilhações de políticas claramente divisionistas e desagregacionistas que favorecem e instigam a formação e o aparecimento de almas cônscias pró-independentistas ( isso sim, pode ser pernicioso e nefasto para o poder soberano do Capitólio Lisbonense tão proclamado na já pouco respeitada constituição). “Os caminhos fazem-se caminhando” e por mais longos que sejam começam sempre com um simples passo. E esse passo está dado. É agora preciso acreditar que é possível comutar o actual estado diluviano da pátria (especialmente do ” resto” provinciano) e tétrico do povo tuga. O movimento deve comprometer-se a inovar na forma como se relaciona com os cidadãos, porque o povo tremendamente arredado e desacreditado da política lusitana tem de sentir na pele que não é mais do mesmo que aí vem. Há que criar condições para que os cidadãos intervenham e percepcionem o quão importante são as suas opiniões e vozes para o solucionamento dos problemas que assolam o país. Como é sabido, a reinante democracia representativa serve única e exclusivamente os interesses dos partidos com assento parlamentar na Assembleia da República.

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  2. Estou por isso certo, que se Péricles fosse vivo e soubesse que andavam a brincar e a chamar democracia a um regime que convoca o povoléu apenas para os sufrágios, iria pensar que era obra do Dionísio… .
    Para finalizar o comentário, quero apenas mencionar que tomei conhecimento desta iniciativa através do Blog Renovar Porto que por sua vez me tinha sido dado a conhecer pelo Blog Dragão Até à Morte. O comungar de opinião com os escritos expostos no blog renovar porto e a actual crise económica e social de futuro certo e de meta avistada lá longe bem para lá de Plutão, fizeram-me recolocar na minha agenda cognoscente a temática da regionalização.

    Ps: tenho publicitado o movimento tanto quanto posso, e pelo feed back obtido sei que alguns amigos (ainda que pouquinhos) identificaram-se com o projecto e aderiram à causa.

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  3. Eu acho que o Francisco não tem razão.
    Os Partidos Republicanos deviam nascer depois da República, os Partidos Democratas depois da democracia e, já agora, os bebés depois das mães.

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  4. Correcção óbvia:
    Eu acho que o Francisco não tem razão.
    Os Partidos Republicanos deviam nascer depois da República, os Partidos Democratas depois da democracia e, já agora, as mães depois dos bebés.

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  5. Caro Tripeiro Conbictu

    Sem querer arvorar-me em porta-voz do Movimento, que não sou, deixe-me dar-lhe as "boas vindas a bordo". Já conhecia o seu pseudónimo a partir dos seus comentários no Renovar o Porto(Gaia) e no blogue do Manel Vila Pouca, também ele adepto do nosso Mov.
    As suas observações são relevantes e oportunas e fazem sem dúvida parte da agenda dos principais dirigentes do Movimento.
    Permita-me uma pergunta. Agora que é membro do Mov, quando decidirá revelar a sua identidade?
    Cumprimentos.

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  6. É mais fácil apostar refeições de carapaus - entre gargalhadas e chacota generalizada - pelo falhanço do Movimento pró-Partido do Norte, como foi feito por dois senhores, que desconheço, no último programa de Jorge Fiel no Porto Canal, do que fazer algo de concreto para mudar o actual estado da coisa política. Este, no norte, só interessa a uma minoria de cidadãos com carreira feita, ou em curso, na rede dos interesses partidários com sede na capital. Basta recorrer à memória para verificar que, nos últimos 20 anos, temos sido tratados como uma espécie de excedentários do todo nacional, uma gente que está nas traseiras de Portugal, que pagou, não viu a festa e agora é confrontada com a conta por pagar. Contra isto só podemos ser inconvenientes, mas, como é óbvio (e o Francisco saberá melhor do que eu) no futuro próximo isso não bastará.

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  7. Sei o que o Carlos Romão quer dizer com "os carapaus e as gargalhadas" e até já pensei em escrever sobre o assunto.

    Vi o programa referido e confesso que me apeteceu furar o écran da tv para dizer umas coisas sérias àqueles dois cavalheiros, muito pouco sérios...

    Como no programa da semana passada, voltaram a criticar o Movimento sem serem capazes de sugerir uma única alternativa. Mas, querem convencer-nos que são regionalistas...

    Com tanto cinismo não dá para levar gente desta a sério.

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