25 maio 2010

...E que vá a votos

Será que o melhor caminho para chegar à Regionalização passa pela criação de um partido regional?

A pergunta parece-me legítima. Muito boa gente, adepta da Regionalização, pensará provavelmente que seria mais prudente, porque mais abrangente e flexível, lançar um movimento de cidadãos sem conotação a uma qualquer região específica e que aglomerasse as vontades de todos quanto sentem que este modelo centralista já deu o que tinha a dar ou já tirou o que podia sacar.
Outros pensarão talvez que seria mais eficaz travar esse combate dentro dos partidos existentes, os partidos consagrados que ganharam assento parlamentar.

O tema da Regionalização embrulhou-se em abstracções, em equívocos, em falsas movimentações e num tal emaranhado de alçapões, de clichés e ideias feitas que me parece indispensável, pelo menos para os que nela acreditam, que ganhe contornos definidos e se ligue à terra real para que se mobilizem os que estão em causa, ou seja, as populações concretas a que um dado projecto diz respeito.

Nada mais natural e sadio que a Região que mais prejudicada tem sido pelo centralismo da capital seja a primeira a erguer-se e a pôr de pé uma proposta estruturada que liberte as suas energias e galvanize os seus talentos. A Região Norte responde a essa vocação. Tanto melhor seria que outras regiões encontrem nesse combate nortenho uma inspiração ou uma experiência, mas cabe a cada comunidade exprimir como melhor entender o seu caminho, o seu momento e as suas aspirações.

O que é certo é que a norte já não basta conversa mole ou apenas discutir o horizonte até porque, nesta matéria, os tais partidos consagrados já deram provas suficientes do conforto centralista em que se instalaram.
A anunciada criação de um partido regional do norte é a passagem ao acto que se impõe, é o pôr-se à estrada e construir o caminho caminhando, mesmo que das margens nos atirem pedras ou os argumentos estafados que apenas justificam o status quo.

Um partido regional é um partido por Portugal, é um partido que assume as suas responsabilidades e se sujeita ao escrutínio do eleitorado invocando os interesses e o contributo da região para um conceito de progresso nacional assente na solidariedade e na coesão económica e social.

Um tal partido não terá seguramente o monopólio da clarividência nem se arroga necessariamente como representante de todos os nortenhos. Mas pode ser uma congregação de esforços que enriqueça o debate, enriqueça a política no seu mais nobre sentido e dê voz na Assembleia da República aos que a norte sentem a urgência da Região.

Haja partido e que vá a votos.

25 de Maio de 2010

Francisco de Sousa Fialho

6 comentários:

  1. Caro Francisco concordo plenamente com as suas palavras, este tem de ser o movimento dos que já disseram basta e estão dispostos a modificar o destino do Norte e por conseguinte de Portugal!
    Dos fracos não reza a história, estou cansado da promessa da luz ao fundo do túnel quando na realidade vejo a sombra do fundo do poço!!!
    Teremos um caminho difícil, os atentados ao movimento vão começar a surgir, não somos inocentes estamos cá para assumir a nossa posição!

    ResponderEliminar
  2. Demasiados equívocos...

    A Regionalização tradicional será o melhor caminho para dar mais autonomia ao Norte ? Em 2006 Paulo Rangel e Rui Moreira defendiam a fusão de autarquias como alternativa à Regionalização... Será que faz agora sentido Regionalizar quando o Estado está a falir ? ninguém o compreenderia ? Não teria sido preferível regionalizar em 1998 ? Não será mais credível começar a apontar o que se pode extinguir já ? Será que os 700 000 alentejanos ou os 300 000 algarvios merecem uma região e os 400 000 vianenses ou os 800 000 bracarenses não o merecem ? Porque é que a Norte tem que ser um região grande e no sul se aceita regiões do tamanho da cidade do Porto ? E neste momento, para o desenvolvimento do Porto ou Norte, é mais importante por exemplo suspender uma obra inútil como é a «casa da música» no porto de Leixões ou debater a Regionalização já na pré-reforma ?

    Partido Regional, de uma região em concreto, ou Regionalista (defensor do desenvolvimento regional de todas as regiões que o merecem e tem sido esquecidas ? São coisas diferentes. É que o Regionalista não cria tantos anti-corpos e já foi tentado (procurar no wikipedia por Partido Português das Regiões).

    Recomendo boa leitura pela blogosfera.

    ResponderEliminar
  3. José Silva,

    Caminero, no hay camino, el camino se hace caminando.

    ResponderEliminar
  4. Eu acho que o principal erro a Norte é excesso de caminho e falta de direcção...

    Modestia à parte, se houvesse mais Josés Silvas ou Ruis Moreiras, há anos atras, talvez não se tivesse chegado a este «caminho da servidão» face a Lisboa como diria ao Hayek...

    ResponderEliminar
  5. Se Maomé não vai à montanha, vai a montanha a Maomé. Vamos a isso.

    Um abraço

    ResponderEliminar
  6. José Silva,

    Não percebo porque é que envolve o nome de Rui Moreira no seu manifesto de «visão estratégica», mas continuo a achar que este não é o momento para discutir os detalhes, mas sim para avançar. Pelo caminho, trataremos de encontrar os melhores atalhos.

    Foi com esse espírito "perfeccionista" prematuro que a Regionalização ficou no papel e agora nem no papel consta. Os adeptos da descentralização [como o Miguel Sousa Tavares e outros], que o digam.

    ResponderEliminar