Se os últimos anos da república tinham provocado divisões dilacerantes nas forças políticas, se o descrédito da política tinha levado a uma onda contra os “políticos”, manipulada por políticos “apolíticos”, as medidas tomadas pelos governos da ditadura tenderam a reunir as forças republicanas para o derrube da ditadura.
Muitos dos que estiveram expectantes estavam agora esclarecidos, muito dos que hesitaram estavam agora determinados. No entanto as feridas da república não permitiram uma unidade generalizada das forças republicanas.
Todavia, enquanto os esbirros da ditadura esquadrinhavam Lisboa, as forças revolucionárias escolheram, pelas suas tradições e pelas suas condições, o Porto para o início do seu grande levantamento.
O general Sousa Dias, o Coronel Freiria, o comandante Jaime de Morais, os capitães Sarmento Pimentel, Alfredo Chaves, César de Almeida, Pina de Morais, Nuno Cruz, Jorge Falcão e o Tenente Pereira de Carvalho assumiram o comando das forças militares revolucionárias. José Domingues dos Santos coordenou a intensa participação civil, sobretudo intelectual e operária.
Presos os chefes militares do regime, as forças revolucionárias ocuparam o centro da cidade exigindo o regresso imediato da Constituição, enquanto as governamentais, vindas de Braga, Viana , Valença e sobretudo Lisboa, imediatamente cercaram o Porto, e começaram a apertá-lo sob o comando do Coronel Raúl Peres.
A bombarda rugiu durante cinco dias sobre a cidade. Milhares de feridos, centenas de mortos, em números ainda hoje desencontradas pelos historiados variando, entre as duas e as cinco centenas.
O levantamento de Lisboa era decisivo. Mas não surgia. O Porto, com os levantamentos solidários de Amarante, Vila Real, Guimarães, Barreiro e Faro, aguardava o levantamento lisboeta, enviando, em desespero de causa, numa traineira, Raul Proença Camilo Cortesão a tentarem levantar a capital.
Mas no terreno s situação era difícil. Embora de todos os pontos do Norte acorrerresem reforços para as forças revolucionárias a artilharia da Serra do Pilar e da aviação governamental arrasavam a cidade a ferro e fogo.
Só o levantamento de Lisboa salvaria o Porto e a democracia. Só que ela não chegava. No final do dia 7 de Fevereiro, contando os mortos e com uma cidade a arder, com um cerco cada vez mais apertado, sem vislumbrar possibilidade de vitória, Sousa Dias à frente dos revolucionários nortenhos admite a rendição e tenta salvar os seus homens.
Pouco depois levanta-se Lisboa. Era tarde. Sarmento Pimentel escreveria a este propósito: “Nós, os do Porto, chamámos àquele levantamento tardio de Lisboa a Revolução do Remorso”
A verdade é que em 31 de Janeiro de 1891, cujo 120º aniversário comemorámos na semana passada, no que diz respeito ao não seguimento atempada dos levantamentos nortenhos libertadores, ocorreu algo semelhante. Se houve então lugar ou não a remorso, só Deus saberá e, infelizmente, não consta que tenha dado em historiador…
Pedro Baptista
Dirigente do MPN
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