09 outubro 2010

A Suécia e o Porto

Os princípios naquele país são simples, não se “investe”, não se desperdiça, no que já funciona. A rede de metro é antiga, os elevadores também, o que significa que já os tinham há quarenta anos atrás, muito antes de todos. É um país pequeno, que os EUA de Obama tentam imitar na resolução desta grave crise, mas que não conseguem, porque são um grande país aberto. Mas é ali, na crise dos anos 90 do século XX, que estão as soluções actuais, para Portugal.


Porque comparo com o Porto? Porque reconheço na gestão de Rui Rio e da sua equipa os mesmos princípios que estão na cidade a alcançar os resultados certos. E tenho de deixar a minha palavra de incentivo, que também é preciso saber dar, não é só criticar…

Vou deixar uma pequena inconfidência que me tirou uma noite de sono em 11 de Novembro de 2006:

“No âmbito do ciclo de conferências “Olhares cruzados sobre o Porto”, em que estiveram presentes o Dr. Manuel Pinho, o Prof. Daniel Bessa e o Dr. Miguel Cadilhe, ao terminar, foi lançada uma pergunta de desafio à audiência. Estava em causa o baixo peso dos incentivos PRIME-SIME na zona Norte, o que indiciaria um muito baixo nível de investimento realizado pelas PME’s.

E o Dr. Miguel Cadilhe perguntou o que é isto suscitava à audiência presente?

Fui a única pessoa que reagiu ao desafio, após três tentativas, e aproveitei para perguntar ao nosso na altura Ministro da Economia, como comentava uma dada passagem da intervenção do ex-Primeiro Ministro Goran Persson, responsável pela recuperação económica da Suécia, durante uma recente visita a Portugal. “Perguntei-lhe como comentava a sua ideia, de um efeito perverso do mercado de capitais e bolsista sobre a actividade empresarial das PME’s, pelo que a sua primeira acção foi precisamente reduzir o peso deste tipo de mercados?

Admito que tenha ido uns passos para além do que estava a ser pedido à audiência, até pela confusão que me pareceu ter sido registada. Mas explico melhor a minha ideia. Considero que a pressão que os Fundos de Investimento exercem sobre as sociedades cotadas e seus administradores, em que já não chega ter as mesmas taxas de crescimento dos anos anteriores para manter cotações, que por sua vez representam parte substancial da remuneração destes gestores, acaba por suscitar políticas de curto prazo de captação de grande parte da cadeia de valor dos vários processos sectoriais, com inevitável perda para as PME’s. Que são as que criam mais emprego.

Era aqui que queria chegar. Em 2006. Pedir para olhar para os mercados financeiros e pará-los, um pouco. Porque é que se assume que todos os recursos financeiros públicos têm de ser consumidos em projectos de investimento? Poderiam, caso estes tenham uma baixa rentabilidade de retorno, ter mais eficácia se entregues directamente aos cidadãos, como imposto negativo (exactamente na mesma lógica de remuneração accionista no sector privado). Será que estes investimentos se destinam a satisfazer as necessidades reais dos cidadãos? É que nem todos os governantes precisam de passar pela vida pública para mostrar obras físicas, imobiliárias. Penso, até, que acabarão por passar para a história, os primeiros que deixarem o de fazer.

A Suécia aprendeu na década de 90 uma lição chamada Gestão, segundo o Sr. Goran Persson, que estava por detrás das linhas de orientação da política pública seguidas pelo Eng.º José Sócrates, entre as quais:

“Podem escolher o modelo social que quiserem, mas têm de o saber gerir”

“Tomem conta do vosso sistema e nunca lhe ponham um fardo superior ao que podem financiar”

“O mais importante do factor crescimento económico não é se os impostos são elevados, mas a forma como são usados”.

E os números deste país:

- A produtividade dos pequenos privados da Suécia está a crescer, continuamente, ao ritmo de 6% ao ano, de forma sustentável.

- A Suécia está no terceiro lugar nas finanças públicas e há já vários anos que a sua taxa de emprego aumenta.

- Lá, o que é visto como problema, passa a ser um desafio para ser ultrapassado: por exemplo, o envelhecimento da população e a pressão sobre o sistema de segurança social é entendido como um incentivo para a investigação em áreas como a demência, senilidade e outras relacionadas com o envelhecimento dos suecos, criando valor de exportação para outros países que compense os custos que terão de ser suportados por esta realidade. E se existe uma área (bastando ler os jornais diários) em que Portugal tem vantagens competitivas é a que se relaciona com a saúde (investigação, aplicação, farmacêutica, turismo de saúde, geriatria, bom clima e tudo o mais associado).

Como me considero cada vez mais um “acupuntor económico” e não um economista, vou agora também fazer a minha parte do trabalho de casa sobre a Suécia e a forma como saiu da sua crise. Sem trabalho de casa não vamos lá. Isto pode parecer pouco agradável para mim, que me considero um “liberal de esquerda”, será que mo deixam ser: “O Estado e os Sindicatos devem participar nos lucros das Empresas”. E esta?

José Ferraz Alves

1 comentário:

  1. Achei muito interessante o aqui exposto.

    Penso, mas deixo a dica ao autor José Ferraz da Costa, que também temos que mudar mentalidades, para além do estudo que vai fazer.
    Ou seja, os nórdicos, ajudam, assumem o Estado , não como algo que está lá "acima" mas algo de que fazem parte.
    E como em tempos foi dado a ver nas televisões num progama sobre Países Nórdicos, penso que na Noruega, havia necessidsde de despoluir uma pequena zona, junto ao mar, e a população voluntariamente de forma gratuiita e com boa disposição(complicado, para nós, latinos??), fê-lo num fim-de- semana.

    Assim, para além das ideias expostas e a serem mais detalhadas pelo José Ferraz Alves, todos temos que ajudar, dado que o País é nosso, e não do Sócrates, do Passos Coelho, do Louçã, do P.Portas.
    Não! não é destes senhores, nem dos outros que por lá !acima, em cima! andaram e andarão, é nosso e eles, todos, devem isso entender, mas com o trabalho "no campo" ou até na escrita, de todos e de cada um de nós.
    Força, Caro José Ferraz Alves.

    Augusto Küttner de Magalhaes

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