09 dezembro 2010

Os heróis da Cultura

A cultura não é a minha área mais forte, claramente. Mas é cada vez mais intenso o potencial que lhe vejo de alimento de criatividade para o próprio desenvolvimento económico. Até porque tenho tido a felicidade de, aos poucos, começar a privar, e coleccionar como amigos, verdadeiros heróis da cultura, com uma coragem, criatividade e capacidades que reconheço me faltarem e aos empreendedores empresariais de que tanto precisamos neste momento. Ou seja, considero que o empreendedorismo tem muito de arte e criatividade, de risco, de coragem, de enfrentar os outros, para o tal crescimento com inovação, que permita acréscimos de produtividade em valor, a base para termos recursos para depois financiar a Cultura e o Estado Social.

Escrevo em dívida pelo trabalho do Teatro de Plástico no Museu Nacional Soares dos Reis, em que o seu lindíssimo edifício e a sua colecção ganham vida à noite na cidade do Porto, numa experiência nova e partilhada de várias artes,teatro, pintura e escultura e outras de que sou ainda mais ignorante. De facto, acabei por concluir que a beleza plástica e a criatividade do ser humano é bem mais rica do que peças supostamente mortas, muitas vezes fruto de estranhas apropriação que a história vem demonstrando. A parte do saque ao museu de Bagdad e da protecção dada ao Ministério do Petróleo é um excelente momento de intervenção política. Aconselho a viverem esta experiência.

No que mais me diz respeito, com a hipoteca do primeiro Teatro Municipal a pessoas festivaleiras de Lisboa por alguns dos “broncos” da Câmara do Porto, a força e perseverança de verdadeiros heróis, como o Francisco Alves do Teatro de Plástico, demonstra que é possível até ganhar outra dimensão de intervenção. O que ficou da passagem das revistas pelo Porto? E o que fica de pessoas como Francisco Alves? A minha memória já tem a resposta. A cultura tem de estar intimamente ligada à educação, por isso, no âmbito do MPN - Movimento Partido do Norte, propomos a fusão do Ministério da Cultura no da Educação. Sabem porquê? Para dar uma mais efectiva dignidade à sua acção e porque temos os pés no chão. Assim os recursos poupados nas estruturas de cúpula iriam directos ao apoio aos trabalhos das companhias no terreno, com resultados pedidos e avaliados ao nível do seu impacto na formação e educação. Esta ideia de consolidação do TNSJ numa nova estrutura nacional na OPART é exactamente o balão que esvaziaríamos no primeiro dia para aplicarmos directamente no terreno.

Já há tempos escrevi, considero que o ex - Ministro Pinto Ribeiro, escolhido por engano ou não, acabou por ser um dos mais lúcidos Ministros da Cultura que tivemos, nomeadamente pela sua intenção de canalizar 1% das despesas em obras públicas para a reabilitação do património histórico do país. Esta intenção foi boicotada pelo Ministério das Finanças por uma suposta “acumulação ilegítima de incentivos fiscais que daí decorreriam," !?, que ainda hoje não consegui perceber o que significa. Agora é a reabilitação do Teatro do Bolhão que poderá abortar, por faltarem 300 mil euros do orçamento nacional, que caiu para o baú dos silêncios da actual Ministro da Cultura. Aconselho a procurarem saber quanto custa a reabilitação acordada entre o Governo Nacional e a Câmara de Lisboa para a reabilitação do passeio marítimo desta localidade.

Entretanto, estive na passada 2ª feira no Pequeno Auditório do Teatro Rivoli num Fórum de reflexão e balanço sobre “O Voluntariado no Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão Social “ e deixo uma pequena palavra para a Sra. Vereadora do Conhecimento e Coesão Social, Prof.ª Dra. Guilhermina Rego, um dos melhores elementos e com maior potencial deste Executivo Camarário, desejando que já esteja restabelecida do foco gripal que a atingiu e perguntando porque é que abandonou a sala entregue à sua sorte, após o discurso de abertura? Já sabe tudo sobre a questão da luta contra a pobreza e a exclusão social, entende que nada iria aprender naquela sessão para depois aplicar ou decidir, tinha assuntos mais importantes, talvez as soluções para criar riqueza no país a estudar, ou confia assim tantos nos seus assessores que ficaram na sala para depois lhe transmitir um relatório? E esse relatório, concerteza, será tão simpático para si e para o seu trabalho que se deitará concluindo que, de facto, tudo está a melhorar na cidade e no país. Tem algum assessor com coragem de mau mensageiro?

Que mania dos decisores entenderem que nada têm a aprender com os Seminários e Fóruns que promovem, apenas os abrindo e encerrando. Se calhar, mais uma pequena razão que justifica que ficam num mundo que não é o real. Há uma diferença entre desejo e realidade. Talvez uma pequena mudança de comportamentos se induza em resultados, que decerto, quer, queremos todos obter.

Porque acredito nos decisores políticos, peço que não se deixem enganar por uma vida tão agitada que não lhe permite a clarividência e a reflexão. Isto, para dizer, que importante é aquele que sabe não o ser, cada dia. Já tinha sugerido ao Dr. Rui Rio que tomasse todos os dias café na Associação dos Moradores do Bairro do Aleixo, para lá acabar com o tráfico de droga. E, já agora, deixo a dica para se inspirar, enquanto autarca, mais em Jaime Lerner do que em pessoas que são para outras lutas. Ou é esse o objectivo, afinal, e sempre foi?

José Ferraz Alves

3 comentários:

  1. Parece-me no mínimo estranho, que este blogue, que é suposto funcionar também como porta-voz do Movimento PPartido do Norte, não tenha feito nenhuma publicidade à reunião/debate do próximo dia 18, e o tenha feito aqui:

    http://www.porto.taf.net/dp/node/7422...

    Estaremos a ser elitistas? Já?

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  2. Verifico agora - com alguma dificuldade, diga-se -, que afinal o convite para o debate aparece na coluna "Notícias do Facebook", o que não invalida a minha anterior observação. Além de que o blogue de A Baixa do Porto, não é o único da cidade a dedicar-se a assuntos de carácter regionalista...

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  3. Ao ler o que José Ferraz Alves escreveu, começo por ter de o felicitar pela forma como aborda a necessidade de termos “Cultura”. Sem dúvida é importantíssimo e cada vez mais o será! Não chega ser-se bom economista, bom gestor, tem de se ter uma ideia do que o “homem” fez ao longo de milénios, o que se sabe pela Historia e pela Cultura que foi fazendo e nos foi transmitindo, e pela História e Cultura que hoje e sempre se fará.
    Quanto à fusão do Ministério da Educação com o da Cultura, parece ser uma excelente ideia, quer pela ligação necessária entre ambos, quer pelas sinergias que daí advirão (falo como não ligado a qualquer partido). E de facto a Cultura, ao não estar a ser cabalmente potenciada ao momentum, está a fazer desligar muitos da mesma, o que é muito mau. E este momentum perde-se… Logo apostar na Cultura, poupando onde se deve poupar, é essencial! E por certo não haver tanta dispersão e uma melhor concentração. Penso, sem certezas, que temos todos de aprender a fazer tudo muito melhor, sem nunca ter de ser os melhores, mas sempre a fazer melhor que ontem… E a aposta deixou de poder ser na quantidade, e tem de ser na qualidade… para a Cultura, também…
    Quanto ao aparte último do José Ferraz Alves, e sem pretender falar em casos concretos e muito menos no que refere, tenho para mim, mas presumo não estar certo, que as pessoas importantes e que ocupam cargos públicos e /ou de relevo deveriam ter de ver a vida como anteriormente viam, antes de chegarem onde chegaram. Mas, parece, não em poucos casos, que ao passarem a estar a um nível superior - o que as pode possibilitar ver de mais acima - deixaram de ver e estar mais baixo, logo a visão fica parcial… E há, vá-se lá saber porquê, uma certa necessidade de ficarem acima, mais isolados… mais distantes… Poder? Não sei! Talvez, ou talvez não!
    Augusto Küttner de Magalhães

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