07 novembro 2010

Vamos “partir” tudo?

Na senda de um excelente “post” anterior, da autoria e responsabilidade do Francisco Fialho, gostaria de recuperar algumas questões, que já levantei anteriormente, mas que então ninguém achou interessante aflorar, excepto, infelizmente, para me descarregar alguns insultos, que tiveram o condão de me convencer ainda mais da pertinência das questões levantadas:

Entendo que, mais ainda do que antes, temos que discutir Sociedade e Estado.

Penso que já todos (ou quase) temos consciência de que muito (quase tudo?) não está bem, ou está mesmo muito mal, no que respeita à nossa Sociedade, no que respeita ao nosso Estado.

Se já todos (ou quase) tem finalmente consciência de que é necessário “inventar” um novo modelo de Sociedade e da sua gestão, ou seja Estado.

Porque teimamos em aceitar, acriticamente tantos dogmas?

Porque não temos a coragem de por TUDO em causa, de tudo avaliar e questionar, sem preconceitos?

Porque nos recusamos a discutir certas “verdades”?

Será ou não verdade que, por vezes, para projectar a forma de urbanização ideal de uma dada área, já urbanizada mas decadente e degradada, não será importante primeiro, analisar o que lá está e ver o que se deve manter e o que deve ser demolido?

Então digam-me lá por favor

(e vamos começar com algumas questões que me parecem simples)

  • Porque é que se tem que votar tudo num só dia (das 08 ás 19), não seria melhor dar, por exemplo, uma semana para o processo ser desenvolvido de forma mais pensada e responsável?
  • Porque é que se tem que votar exactamente naquele local determinado, quer seja ou não conveniente e acessível?
  • Porque é que não se pode votar no Multibanco, na Internet, ou até, sei lá, nas máquinas da “Santa Casa”, a tecnologia actual, já não o permite com a maior das seguranças?
  • Porque é que não se pode conhecer a evolução da votação, ao longo do seu período, e decidir entre o voto e a abstenção, ou até o sentido de voto, e mesmo, caso assim se entenda, alterar o seu sentido, de acordo com a evolução verificada e o juízo que desta façamos?
  • Para que serve o “período de reflexão” e as absurdas regras relativas a propaganda, etc.?
  • Porque é que a Assembleia da República, órgão ao qual cabe, fundamentalmente, legislar, definir as políticas, fiscalizar a sua correcta implementação e garantir a correcção dos desvios verificados, não pode contratar uma empresa (leia-se, uma equipa se profissionais competentes na área da governação, privada ou não, nacional ou não) para assegurar o governo da nação, em vez de continuarmos a insistir na fórmula de usarmos "políticos" como "executivos" (cada macaco no seu galho) ?
  • E, já agora, porque é que a Assembleia Municipal e a Assembleia Regional (quando existir) não pode contratar uma empresa privada (nos moldes anteriores) para assegurar a gestão quer da câmara municipal quer, da Região?
  • Porque é que é preciso um Presidente da República?
    (Não serviria o Presidente da Assembleia da República?)

E agora umas mais “difíceis”

  • Quais as diferenças e semelhanças entre o Estado e um condomínio?
  • E entre o Estado e a Família?
  • E entre Família e condomínio?
  • Porque é que o princípio de “um homem, um voto” é tão cega e acriticamente aceite?

Eu tenho a minha opinião, claro.
Mas, por agora, gostaria de ouvir outras.

Porque acho que é importante discutir, debater, pôr em causa, questionar.
Porque é para mim evidente que a principal razão para o estado actual da nossa Sociedade é a nossa aceitação acrítica de tudo aquilo que “os senhores que sabem” nos vão afirmando como verdades absolutas.

Porque não tenho qualquer dúvida de que, enquanto uma quantidade substancial da nossa Sociedade não se decidir a pôr em causa as verdades de sempre e procurar construir algo de novo com novas visões, vamos continuar neste caminho para a miséria.

Acima de tudo porque é importante pensar.

António Moreira.

(Este “post” é da exclusiva responsabilidade do seu autor)

6 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Excelente texto que merece a reflexão daqueles que se interessam pela "coisa" pública!

    Já agora questiono porque motivo temos que eleger um presidente da república (gastando uma fortuna com as eleições e tudo que lhe está associado), que não tem poderes e que do meu ponto de vista é um lugar quase simbólico? Porque não é eleito pela assembleia da república, como de resto acontece em Itália ou Alemanha!Ou então mude-se o sistema para uma democracia presidencialista, como a França!

    Ou então como diz o texto, promova-se o presidente da assembleia da república!

    O voto electrónico, que já é possivel em países emergentes como o Brasil, devia ser implementado em Portugal, porque é facilimo de executar!

    Se querem a minha opinião de semelhanças e diferenças entre Familia, Condominio e Estado (a ordem das instituições, para mim, é mesmo esta) elas quase não existem, porque governar e gerir é aplicável às mesmas situações, com as devidas proporções!

    Mas vamos "discutindo" estas e outras questões que são muito importantes para o dia a dia e a vida do todos!

    Um abraço

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  4. Caro Renato

    Muito obrigado, primeiro por comentar, depois pela forma simpática como o faz.

    Estando um bocado a correr, gostaria de complementar a reflexão quanto a "Família, condomínio e Estado", como representação simplista da forma que diferencia os dois conceitos essenciais de Estado, ou seja, entre aqueles que entendem o Estado apenas como uma qualquer "administração de condomínio", à qual cabe apenas gerir as "partes comuns" e regulamentar a suafruição e aqueles (como eu) que entendem que o Estado deve ser mais do que isso, associando o conceito de "Família" para, antes do mais, poder integrar os valores da solidariedade entre os seus membros, fazendo destes o "cimento" unificador da sociedade.
    Para mim o Estado, assim entendido, escreve-se com maiúscula, enquanto que se o entendemos apenas como mero "administrador de condomínio" não merece mais que a minúscula.

    Voltarei a este tema logo que possível.

    mais uma vez obrigado.
    AM

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  5. Excelente texto para reflexão. Muitos parabéns.

    Já Platão usava, em a “República”, uma argumentação dialéctica. E afirmava: “"Os males não cessarão para os humanos antes que a raça dos puros e autênticos filósofos chegue ao poder, ou antes, que os chefes das cidades, por uma divina graça, se ponham a filosofar verdadeiramente."

    Caro António Moreira: não questionar as verdades “insofismáveis” é laxismo, é o não exercício da cidadania. As reflexões patentes neste texto são o corolário de interrogações que se põem até ao mais comum dos cidadãos que se preze.

    Mais uma vez, muito bem, parabéns, obrigado Sr. António Moreira.

    Um abraço.
    Fernando Moreira

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  6. Caro Fernando Moreira

    Muito obrigado pela sua atenção,
    Como referi acima, quando (e se) puder continuar a "filosofar" aqui regressarei.

    Por agora não está fácil.

    Obrigado.
    António Moreira

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