03 agosto 2010
Salvar o Tua
As recentes declarações da Ministra da Cultura, durante a inauguração do Museu do Côa, sobre a inevitabilidade da construção da barragem de Foz Tua são surpreendentes a vários títulos.
Surpreendem desde logo por serem proferidas pelo membro de Governo que mais sensível devia ser ao crime que a construção da dita barragem representa contra a cultura, contra a paisagem, contra a biodiversidade, contra o turismo e contra o desenvolvimento harmonioso regional de uma zona que integra parcialmente o Douro Vinhateiro, classificado pela Unesco como Património da Humanidade.
Surpreendem também por desvalorizarem a previsível classificação da linha ferroviária do Tua como Património de Interesse Nacional, na sequência da abertura do correspondente processo pelo Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR), como se afinal o reconhecimento daquele “valor patrimonial de excepção” se pudesse varrer de uma penada como um incómodo menor na prossecução de interesses economicistas pouco claros.
Surpreendem ainda por menosprezarem as mais de 15 mil assinaturas de petições de nortenhos, e não só, que reclamam ponderação e bom-senso, ao mesmo tempo que ignoram os movimentos cívicos que vêm denunciando com tenacidade um desvario centralista feito de cimento e de arrogância.
E surpreendem, enfim, por provirem do membro de um Governo que sabe pertinentemente que o Plano da Dez Barragens, em que se inclui a do Foz Tua, foi alvo de uma queixa junto da Comissão Europeia, por violação da legislação da União em matéria ambiental, e que é sabido que os competentes serviços da Comissão nutrem vivas reservas em relação àquele Plano.
Se o lobby da EDP, das eólicas e das construtoras não tiver desta vez, pelo nosso silêncio, o ganho de causa com que conseguiu abafar o crime do vale do Sabor, essa queixa provocará a abertura de uma infracção e a eventual condenação do Estado português. Deve ser por isto, aliás, que a EDP anunciou a 24 de Julho o lançamento precipitado do concurso de empreitada para a construção da barragem do Foz Tua, numa clara tentativa de criar factos consumados e de aumentar a pressão em Bruxelas para que ali não se esqueçam do “pá-porreirismo” em que se afogou a infracção do Baixo Sabor.
À cota prevista de 200 metros da albufeira da barragem do Foz Tua, a linha ferroviária do Tua será inundada ao longo de 35 Km, bem como várias habitações das localidades de Amieiro, Brumeda, Ribeirinha, Longra, Barcel, Cachão e Frechas. O afundamento da linha do Tua representaria a estocada final na coluna vertical de Trás-os-Montes, o isolamento de populações, a destruição de um património cultural e paisagístico únicos, a agressão à biodiversidade e o fim de um projecto magnífico de desenvolvimento turístico local de uma região ímpar.
Os interesses da EDP, adjudicatária da obra, definidos em Lisboa com a conivência das forças centralistas, parecem ser majestáticos e acima da lei. Houvesse uma Região Norte instituída e outro galo cantaria. É por isso que alguns temem o surgimento de uma Região Norte e ainda mais o Movimento que crie o Partido do Norte. Para nós, a prioridade está no aumento da eficácia energética, em que estamos abaixo da média europeia e onde há uma margem importantíssima para economia a ponto de se reconhecer oficialmente que por cada euro investido em eficácia energética se poderia obter até oito euros de retorno em poupaça de consumos.
Mas esse não é o negócio da EDP e o centralismo prefere gastar umas centenas de milhões a destruir um vale precioso lá para o norte longínquo, com o bónus de ao mesmo tempo favorecer os interesses dos fabricantes de eólicas, as quais necessitam destas barragens de armazenamento, e de favorecer os interesses das construtoras e cimenteiras.
Entretanto, fazem mais um número propagandístico. Vai ser no Hotel Ritz em Lisboa em finais de Setembro, com convidados de marca a ladearem o Primeiro-Ministro e o Presidente da EDP, numa iniciativa financiada por esta empresa e pela Petrobras, a falarem de energias limpas como maneira de esconderem a sujeira que projectam para Trás-os-Montes.
Aquando do debate de 17 de Julho no Museu do Douro, na Régua, a propósito deste Plano das Barragens, alguém fez saber que tudo estava já decidido e que discutir o assunto era uma perda de tempo. A verdade, porém, é que as betoneiras ainda não foram ligadas no Tua, que a Comissão Europeia ainda não tomou posição, que a linha do Tua vai ser classificada como património de interesse nacional, que o Movimento Cívico pela Linha do Tua prossegue a sua luta corajosa em defesa do vale, e, sobretudo, que no Norte estão os nortenhos e que para lá do Marão mandam os que lá estão.
Francisco de Sousa Fialho
Caríssimo Francisco,
ResponderEliminarestou pasmado com esta rádiografia do Tua, o seu conhecimento sobre o tema é notável, temos de continuar a espalhar a notícia e não baixar os braços!
Temos de sair à rua!!!
NÃO SEI COMO NÃO SE REVOLTAM!!!
ResponderEliminarAndo pela baixa do Porto e vejo um potencial enorme de pessoas para consumir este género de turismo!!!
A agricultura precisa desta energia, assim pode viver com o complemento do turismo rural, de aventura e de... saúde. Estes entre outros, são alicerces económicos para trás-os-montes!
Esta região, uma das mais isoladas em Portugal continental, pode com a construção de um troço de 15 km de caminho de ferro comunicar com uma linha do TGV espanhol que passa em Sanabria!
O míserável custo de recuperação da LINHA DO TUA È DE 150 ME!!!!
O NORTE SAI À RUA.... OU NÃO?
Contestem a barragem em sede própria:
ResponderEliminarhttp://www.linhadotua.net/3w/index.php?option=com_content&task=view&id=598&Itemid=37
Também podem consultar/levantar a documentação no CCDRN (Campo Alegre, Porto).
O prazo está a esgotar.
Muito bom, a organização que aí vem vai certamente trazer muitos calafrios à gente de longe que toma decisões de acordo com os seus interesses económicos.
ResponderEliminarNo futuro vamos mesmo prà rua e para os tribunais, onde for preciso.
Decidir só de acordo com a nossa gente!
Comentei isto internamente, no seio do MCLT: serão assim tão diferentes as circunstâncias actuais e as circunstâncias que motivaram as Revoluções de Outubro de 1910, Maio de 1926, e Abril de 1974? E no entanto, se formos analisar a primeira, e uma série de levantamentos e revoluções da longa História de Portugal (desde Egas Moniz, aos lisboetas que acorreram à suposta morte do Mestre, aos heróis da Batalha da Salva em Angra, aos corajosos "Manuelinhos" de Évora, aos bravos Conjurados do 1º de Dezembro, aos precursores do Liberalismo de 1820, a todas as Marias da Fonte, e finalmente aos heróis improváveis da Rotunda), todas foram alimentadas pelo Povo, e não pelos militares.
ResponderEliminarSerá que a República amoleceu o Povo? Não estou a fazer uma apologia à Monarquia, até porque não aceito como Chefe de Estado uma família potestática sem mandato definido.
A noite é sempre mais negra antes da alvorada chegar. Que venha pois essa alvorada, porque este Estado, esta pseudo-nação erradamente apelidada de Lusa, bateu novamente no fundo, 36 anos depois.
A linha do Tua é muito mais do que turismo.
ResponderEliminarÉ também serviço público às populações locais, até Bragança, ao mesmo nível do por todos os portugueses é pago em Lisboa e no Porto.
E é o grande potencial de ligação à estação de Alta Velocidade de Puebla Sanábra, que coloca Madrid a 1h50. Bragança pode ser a cidade portuguesa mais próxima do mercado emissor de Madrid. Para isso, é necessário prolongar a linha do Tua até Sanábria, no âmbito do PROT da CCDR, com as novas competências que lhe preconizamos. Não percamos este objectivo estratégico de fazer crescer a linha do Tua, como coluna vertebral de Douro e Trás-os-Montes, ligando-a depois à linha do Douro, de Leixões a Salamanca. É necessária a visão regional desta questão.
Bom.
ResponderEliminarÉ lamentável que FF (Francisco Fialho) queira misturar e deturpar as coisas.
Utilizar este movimento para fazer eco da sua posição (legítima) sobre a construção da barragem do Tua - ainda que avançando com dados errados e opiniões avulsas - não é correcto.
Deveria ter-se manifestado antes quando, ainda não se falava da barragem, aquelas gentes foram obrigadas a emigrar fruto da falta de oportunidades.
Querem continuar assim?
Querem fazer coro com o P C de Mirandela, grande causador das morttes verificadas na linha?
Ser nortenho é ter a noção concreta do que as nossas gentes precisam, e não perpectuar estados de espírito que conduzem ao estado lastimavél em que se encontram as nossas gentes.
Lutem pela alteração da atribuição da derrama (tal como a ERDP tem vindo a defender, tirando ao centralismo lisboeta o usufruto daquilo que se produz nas nosssas terras.
Isso sim, é ser nortenho e lutar pelos interesses dos nortenhos e não por motivos coportivos que não beneficiam ninguém a não ser os próprios.
Seria interessante que o 'Dover' indicasse e demonstrasse quais os dados que são errados e o que entende por opiniões avulsas. Aproveito para o esclarecer que se os dados são errados então o erro é do Plano das Dez Barragens, documento oficial que pelos vistos o nosso 'Dover' desconhece ou nunca leu.
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