O Partido do Norte há-de ser um tipo novo de partido ou mais vale nem sair do ovo.
Um partido político não é uma associação de beneficência, uma ONG, uma rede de tertúlias. Um partido reúne, a pretexto de um programa de acção e de princípios e valores comuns, os cidadãos que se dispõem a gerir o Estado com base num projecto para o país e numa visão de futuro.
O Partido do Norte, sendo um partido regional, representa todos quantos acreditam que o regime centralista faliu e deve ser responsabilizado pelas assimetrias económicas e sociais a que conduziu o país. Mas, sendo um partido, visa o poder e não a mera influência.
Contrariamente aos partidos ditos ideológicos, que não passam de escaparates de etiquetas que negoceiam, o Partido do Norte tem de exprimir o pulsar da sua Região, das suas gentes, das suas cidades, das suas empresas, das suas escolas, da sua juventude e da experiência acumulada. Um partido assim vocacionado para ser a voz das populações tem de assumir como seus os problemas e as dificuldades, as esperanças e as ambições dos cidadãos que se propõe representar, de molde a formular as propostas e as decisões estratégicas que respondam aos anseios da comunidade.
Por isso, o Partido do Norte há-de ser um partido a construir de baixo, da mesma forma que uma árvore nasce da terra e vive e se desenvolve graças à seiva que lhe vem da raiz. É na formação e multiplicação dos núcleos de aderentes, reunidos por tema e/ou por localidade, que está o vigor e a verdade desta associação de vontades apostadas em encontrar a plataforma de acção concreta que transforme. Assim se aproximará o cidadão da coisa pública e tanto o Estado, como o poder político, deixarão de ser assunto de especialistas ou de profissionais longínquos, burocratizados e obcecados pelo carreirismo.
Não se trata de demagogia basista nem de auto-gestão anárquica, mas da consciência de que é fundamental reinventar de forma a que se ultrapasse a distância mortal que hoje separa os aparelhos da sua razão de ser: o cidadão. O Partido do Norte não pode ser um clube de iluminados ou de excitados, nem precisa de inteligências individuais nas quais deleguemos a nossa responsabilidade. A clarividência na definição dos interesses comuns e a inteligência na acção para os prosseguir brotará desse colectivo de núcleos formados por gente que ainda acredita que há um bem comum e que o «espiríto de servir» não é uma velharia.
Nem poderia ser de outra forma. Um partido regional, mais a mais quando surge como a resposta óbvia ao separatismo do Terreiro do Paço, teria de funcionar de uma maneira diferente dos partidos centralistas, sob pena de repetir na Região o centralismo que critica. Os partidos que têm ocupado o poder e protagonizado este regime foram construindo o Estado à sua própria imagem e daí a macrocefalia reinante nestas cúpulas que se revezam em S. Bento. A pretexto de disciplinas ditas responsáveis, as direcções partidárias anulam a liberdade crítica dos seus deputados eleitos, perseguem a dissidência como peste e castram o pensamento de cada ‘soldado’ que age como mais um número no lote que levaram para o hemiciclo.
Serve-lhes para isso um sistema eleitoral preverso, que coarta a livre escolha do eleitor, obrigado a adjudicar o magote A ou B, sem escapatória. Algum eleitor conhece ou se lembra do n° 4 ou 5 da lista em que votou nas últimas eleições legislativas ? E é nessa distância em que o regime se instalou e nessas águas turvas que bebe este centralismo «esclarecido» e arrogante, que só pode temer e desconfiar dos cidadãos que se decidam a organizar-se de outra maneira.
Se o Partido do Norte souber ser essa outra maneira, então será uma força extraordinária que nada nem ninguém conseguirá calar. Porque brota da terra e vive e exprime a seiva : as gentes do Norte em prol do país.
Francisco de Sousa Fialho, Jurista.
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